terça-feira, 15 de maio de 2012

Resenha - Os Sertões

por Tainá Passos de Menezes

O livro publicado em 1902, causou grande polêmica na época, nos dizeres da “Vida e Obra de Euclides da Cunha”: “Os Sertões causou espanto e entusiasmo” . Seu tema “A Campanha de Canudos”, obervada pela ótica de um jornalista que apesar de republicano, apresenta em seu livro os fatos acontecidos – muitos deles, por ele próprio testemunhados, durante a última Campanha –, denunciando o que ele chama de “um crime”.
Na 1ª parte do livro entitulada “A Terra”, o autor utiliza-se de seus conhecimentos de engenheiro civil, para descrever o sertão. Com minúcia de detalhes que dá no leitor sono, temos a caracterização geológica e climática do lugar. Fato interessante é narrado nesta parte: um homem parecia dormir ao lado de uma árvore, observando-se bem, porém, descobria-se que ele na verdade estava morto, desde o “assalto de 18 de julho”. O sertão o conservara e assim estava ele intacto, apenas murcho, mumificado, nas palavras de Euclides.
O Capitulo 4 desta mesma parte, remonta As Secas. O autor cita os anos das principais secas dos séculos XVIII e XIX e demonstra assim a coincidência, os períodos de seca são praticamente os mesmos nos dois séculos. Argumenta, entretanto, que apesar da coincidência não há explicação conhecida para a mesma.
Tentando desvendar os motivos que causam As Secas, o autor cita as plantas do sertão. Dentre elas, as curiosas “favelas” que resfriam-se a noite ao ponto de terem “breves precipitações de orvalho”, mas que se tocadas são como “chapa incandenscente de ardência inaturável” .
Na 2ª parte do livro entitulada “O homem”, o autor faz uma digressão quanto a etnologia brasileira. O meio fisico e histórico para ele são os grandes diferenciadores na formação das “raças” do Brasil. Ele trata dos jagunços e suas semelhanças com os paulistas desbravadores desta terra. Do sertanejo, ele diz ser “um forte” . Faz comparação entre este e o gaúcho, o meio fisico é mais uma vez citado como diferenciador das duas “raças”.
No capitulo 4, desta parte ele começa a falar de Antônio Conselheiro, o conceitua como um louco, vide passagem “Por isto o infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a história como poderia ter ido para o hospício.” . Porém, um louco fruto do meio onde vivia que foi o “elemento ativo e passivo da agitação que surgiu”.
Euclides conta a história de Antônio Conselheiro desde os primordias de sua familia, os Maciéis, que se envolveram em sagrentas disputas por aquelas bandas com os Araújos. O tom do autor dá a entender que os ancestrais violentos de Conselheiro, influiram de alguma forma na vida dele e em seu comportamento. Ao chegar a história do próprio, nos é revelado que era sujeito pacato com vida regrada, mas que após uma traição - sua mulher fugiu raptada por um policial – sumiu pelos sertões, voltando a aparecer só muito tempo depois na Bahia, já com a aparência desgrenhada que o acompanhara até o fim da vida.
Arrebanhou multidões meio sem querer. Alvo de lendas dos sertanejos despertou a curiosidade de todos. Com seus sermões, onde falava meio apolíptico sobre a volta de São Sebastião, começou a levar seguidores por onde passava.
Em 1876 chegou a ser preso e levado para a capital da Bahia. Foi solto ao ver-se a improcedência das ações. E voltou para seu povo, no dia em que previra, ao momento de sua prisão.
Com as pessoas que o seguiam ia passando de cidade em cidade e ajudando na reconstrução de templos, cemitérios, praças. E criando inimizades com padres dos locais que não aceitavam seus discursos apocalípticos.
Sobre Canudos, esta era uma “velha fazenda de gado à beira do Vaza-Barris” . Antônio Conselheiro e os que o seguiam fizeram de lá sua casa, com leis próprias, e vida baseada em grande religiosidade. Entretanto, o roubo fora do lugar era permitido contanto que viesse para proveito de Canudos.
Na 3ª parte do livro entitulada “A luta”, o autor começa a destacar os motivos que levaram a destruição do Arraial. Tudo começara ao que se indica, pois Conselheiro havia feito um pedido de madeira para terminar a Igreja Nova, feito o negócio este não foi realizado no prazo. O representante da Justiça de Juazeiro já era desafeto de Conselheiro fazia tempo, por isso, diante da ameaça do mesmo de invadir a cidade, aproveitou-se da situação para pedir reforço policial a Capital da Bahia para invasão do povoado.
O 1º contingente continha apenas 100 praças e foi liderada pelo Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Ao chegar a Juazeiro, grande parte do povo do lugar fugiu, pois “conhecendo a situação, viram, de pronto que um contingente tão diminuto tinha valor negativo de exercer maior atração sobre a horda invasora” .
De lá a tropa seguiu para Uauá onde aconteceu o primeiro combate. Foram surpreendidos na madrugada pelos jagunços de Canudos. Depois de violento conflito os jagunços foram embora. E o comandante da Expedição mesmo com “70 homens válidos, renunciou prosseguir na empresa” . Nas palavras de Euclides: “Foi como uma fuga”.
O capítulo 3 retrata o 2ª contingente, este continha 243 praças inicialmente e ainda ganhou um reforço de mais 100, seu chefe foi o coronel Pedro Nunes Tamarindo. A decisão foi por dividir a tropa em duas colunas. Isto, porém, não adiantou muito. Foram surpreendidos pelos jagunços mais uma vez e tropas federais tiveram de vir a seu socorro.
Na 4ª parte do livro entitulada “Travessia do Cambaio”, o autor retrata a 1ª Expedição Regular a Canudos. Esta com “543 praças, 14 oficiais e 3 médicos” , foi recebida em Monte Santo com honras de vitória. Entretanto passou por grandes dificuldades na marcha até Canudos já que os soldados não estavam acostumados aquele clima do sertão. O combate se deu na montanha do Cambaio, ao som dos gritos dos Jagunços de “Avança! Fraqueza do governo!” . Apesar da força dos combatentes de Canudos, os soldados do governo ganharam a batalha e chegaram a beira de Canudos. Entretanto, após 2º combate, foi a vez do jagunços ganharem e a força expedicionária bater em retirada.
Na 5ª parte do livro entitulada “Expedição Moreira César”, Euclides nos fala da Expedição Regular comandada pelo Coronel Moreira César. Este era figura de muito renome no exército, mas que porém tinha graves problemas de saúde mental, sendo figura tempestuosa e de dificil compreensão. Esta tropa contava com “1300 combatentes, fartamente municiados”.
O arraial de Canudos também teve sua população acrescida, devido a vitória sobre a expedição Febrônio, aqueles que tinham medo de procurar Antônio Conselheiro perderam o medo e rumaram para Canudos. A população se preparava para nova batalha com rezas e procissões de um lado, e criação de trincheiras e armamento de outro.
A tropa de Moreira César como a anterior, teve problemas durante a ida a Canudos, falta de água e alimentação foram as piores.
O primeiro embate aconteceu em “Pitombas”. Visto as armas do jagunços, a tropa ganhou força para continuar a marcha até Canudos. A Expedição Moreira César foi a primeira a entrar no arraial de Canudos, houve revide de toda a população do local, o coronel foi mortalmente baleado ao descer a encosta dos Pelados, e a tropa que sofria sucessivas perdas teve de recuar.
Foi decidido pelos oficiais a retirada da Expedição, o coronel Moreira César foi contra, porém voto vencido. Faleceu ainda no Sertão.
Na 6ª parte do livro entitulada “Quarta Expedição”, temos um panôrama da Guerra de Canudos sobre o ponto de vista da população brasileira. Todos pareciam consternados, os jornais apliavam as informações fazendo parecer que a República em si estava em perigo diante da permanência do arraial de Canudos, dizia-se até “Trata-se da Restauração; conspira-se; forma-se o exército imperialista” .
Para combater esta ameaça organizou-se a 4ª Expedição com batalhões de todo o Brasil. Prevendo-se as dificuldades da chegada a Canudos, foi levada até o lugar uma comissão de engenharia, comandada pelo tenente-coronel Siqueira de Meneses, que abriu uma estrada no local.
Esta Expedição também foi dividida em 2 Colunas: a 1ª acabou presa devido ao conflito intenso com os jagunços, acabou sem munição e teve de pedir a ajuda da 2ª Coluna; esta, por sua vez, a Coluna Savaget, travou árdua batalha com os jagunços e ganhou, já em posição de invasão a Canudos recebeu a notícia do que acontecera com a 1ª coluna e teve de sair de sua posição para auxiliá-los.
A 2ª Coluna chegou a tempo e unindo-se a 1ª, conseguiu invadir Canudos. Os jagunços em nenhum momento desistiram. Acabaram sitiados dentro de seu próprio arraial, mas não esmoreceram em nenhum momento.
Na 7ª parte do livro entitulada “Nova fase da luta”, temos o relato de que reforços foram enviados para Canudos. O maior medo destes combatentes era o de chegar até o arraial e já encontrá-lo tomado pela Expedição, pois sendo assim eles teriam atravessado todo o sertão e não iriam ter a glória dos que lá já estavam. Vide passagem: “É que os rebeldes decaíam tanto todos os dias, tão cheios de reveses e repelidos dos melhores pontos de apoio, e tão enleados nas malhas constritoras do cerco, que cada hora passada era para o heroísmo retardatário crudelíssimo diminuir nas probabilidades de compartir as glorificações do triunfo.”
Na 8ª e última parte do livro entitulada “Últimos dias”, temos a conclusão da Guerra. O arraial destruido que ainda lutava, todos os habitantes sem água e nem comida não pensavam em abandonar o local. Neste quadro a figura de “Antônio, o beatinho” aparece. É ele que traz a informação de que o Conselheiro havia morrido em 22 de setembro, e que negocia a rendição do povo. O que acontece na verdade é que apenas mulheres, crianças e idosos saem do povoado. Nas palavras de Euclides foi “um golpe de mestre. Consumado diplomata, do mesmo passo poupara às chamas e às balas tantos entes miserandos e aliviara o resto dos companheiros daqueles trambolhos prejudiciais.”
Euclides termina o livro relatando que “Canudos não se rendeu” . Nunca foi invadido, até que o último homem estivesse vivo para defendê-lo. Nesta parte ele faz ferrenha critica ao citar o exterminio que foi feito entre aqueles homens válidos, incluindo Antônio Beatinho. O arraial caira no dia 5 e no dia 6 atearam fogo nas casas, 5200 conforme relatado. Por fim, o cadáver de Antônio Conselheiro, foi achado. E seu crânio levado para a Capital para servir de exemplo.
A conclusão que se chega ao final da leitura, é que o autor pretendia demonstrar a barbárie ocorrida em Canudos. O arraial que lutou apenas para se defender dos invasores, nunca teve a intenção que muitos pretendiam demonstrar de fazer uma revolução e reestabelecer a monarquia no país. Era apenas um agregado de pessoas esquecidas pelo governo que viam nas palavras de Antônio Conselheiro um alento diante de condições tão duras de vida. Nunca pretenderam destruir, e por isto foram cruelmente destruidos.

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